Carolina é tatuada, meio sã, meio louca. Vez em outra troca amigos atemporais por amigos virtuais. Afinal, os atemporais raramente estão disponíveis e os virtuais, bem, os virtuais estão ali, sempre, online.
Tem dias que ela bebe vinho enquanto cozinha, tem dias que ela bebe vinho enquanto sozinha. E assim ela vai se bastando, se gastando, se enchendo de não saber ao certo quem de fato está online ou offline em sua vida. Mas segue sua vida perfeita, pelo menos para o resto do mundo.
Sedentária, tem manias de promessas de segunda-feira. Dieta segunda, academia segunda, ligar para a tia na segunda. Todas não cumpridas. Todas falidas de antemão pelo fantasma da segunda-feira. Que dia horrível, não? Menos pra ela.
Segunda é o dia de começar tudo de novo, dia de ter novidades, de abastecer sua história de vida interessante. Segunda é dia de frases motivacionais, contradizer aos chatos que detestam segunda - como eu - de esfregar na cara de todos que suas vidas são um saco. Porque ela é assim, na contramão.
Pseudo irresponsável, Carolina tem diploma, lê Nietzsche, ouve Alcione e ama o mundo vintage. Paga suas contas, se relaciona somente com quem quer, dorme em sua cama totalmente exclusiva e vai ao cinema sozinha. Ela tem sapatos novos, apesar de sempre usar os velhos. Chuta o balde todo domingo. Invejada por muitos, acredite.
Tem dias que Carolina - que não é Carol, pois não curte ser o senso comum - está de bode. Chora em frente à TV, faz cobranças desnecessárias, grita com o cachorro e reclama na política do Brasil. Mas logo é segunda e tudo se resolve.
Eu sei que você a essa altura já desenhou um rosto, um corpo, um jeito de ser de Carolina na sua mente. Talvez essa mulher, que não precisa de idade, nem de mais detalhes, esteja mais perto que imagina. A vida de Carolina é cheia de coisas que ela é ou faz, mas acredite, ela tem muito do que você é ou gostaria de ser. Cada um carrega a Carolina que permite viver. A Carolina existe, ela está no meu reflexo onde muitas vezes, consigo ver você.
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