10 de jan. de 2008

.:. Carnaval de cegos .:.

O Carnaval do Rio sempre foi o momento de tentar esconder as lamúrias da população carioca, do país e até do mundo. Nesse período que começa no Jingle Bell e termina quase na Semana Santa – só na Bahia é durante o ano todo – milhares de pessoas vestem pouca roupa, num manifesto de libertação de ternos ou roupas pesadas de suor do trabalho do ano inteiro. É hora de abstrair.

Mas o país não pára e os acontecimentos vêm à tona ofuscando o brilho dos paetês e tirando dos foliões, o que para eles é seu direito adquirido pelo árduo trabalho. Mesmo que esse apagão ocorra momentaneamente e, ainda, dissimulada por meia dúzia de promessas do governo, ainda sim, eles aparecem também no Carnaval.

Dos barracões que fabricam as fantasias e guardam os instrumentos de escolas de samba famosas, lemos no jornal do dia a notícia de que também seria ponto do tráfico. Dos morros de onde descem os foliões mais necessitados de sorriso, o asfalto sobe para demolir a fortaleza construída pelos traficantes das favelas com os tijolos que faltam no barracão do vizinho.

O cinema nacional mostra um cara de classe média que foi empurrado para o submundo pela vida e apelidado pelos seus clientes drogados de o “Johnny”. Poderia ser qualquer João, do morro ou do Leblon, seu apelido se iguala aos das manchetes dos jornaizinhos sanguinários, personificando a bandidagem com a adição do artigo “o” antes do nome como se fosse algo glamoroso, como se fosse “o cara”.

Mas o Carnaval está aí para isso e talvez por isso tenha sido idéia do brasileiro. “Chopp e dança” pra substituir o “Pão e circo” do Império Romano. Os holofotes acabam redirecionados para os paetês do pequeno biquíni da mulata e o que era triste vira bloco e o que era opaco vira ala. E mesmo que as tristezas do mundo assolem os corações de todos os brasileiros, no ritmo do samba ao toque do mestre da bateria, atrás desse Carnaval de cegos, só quem não vai é quem já morreu.

4 comentários:

Barbie disse...

Oi Lu

como sempre arrasando nos textos heim!

Infelizmente é isso aí, natal, ano novo e carnaval, tudo de uma vez só e quem vai ligar se morre uma cirança de 3 anos em tiroteio no jacaré? a escola tem que entrar na avenida e que dirá os 7 mil animais que estao no abrigo da Suipa que com muita dificuldade, eles estao com uma divida de 600 mil reais, mantem um trabalho iluminado? As alegorias tem que ficar pronta a tempo e o que importa e vender fanatasia...

Infelizmente o Brasil mescla lugares maravilhosos, pessoas maravilhosas, festas incríveis, com descaso, desumanidade e muita, mas muita falta de compaixão!

milhões de beijocas

dyanaribeiro disse...

Lúcia, n vou comentar só este texto pq adorei tds q li!!!!
Estou passando p parabenizar o blog!! Amei!!! C certeza vou visitá-lo mais vezes!!!
bjs
Parabéns!!!
Dyana Ribeiro - São Fidélis

Fã do blog disse...

"...você merece, você merece. Tudo vai bem, tudo vai mal. Cervja, samaba, e amanhã, seu Zé, se acabarem teu carnaval?"

Como já dizia Gonzaga Jr. o que será desse povo sem essa alegria? Será que haveria a sonhada rebeldia em busca de uma nação realmente melhor? Seria que voltaria a rebeldia burra e sem causa dos burgueses contra o militarismo. Ou será que somente nosso povo seria somente mais sofrido, por não ter quatro dias no ano, pra esquecer todo do resto dele?

camelo do deserto disse...

JÁ está afinada a BATERIA DE CARNAVAL ...a moça tá recarregada e cheia de boas visões para enfrentar um novo ano onde VÊ o movimento nas ruas que se confudem realmente com o CIRCO do Imperio Romano...É, nela transitam nossos personagens diariamente!!!

Adorei às associações, e assim você prova que achar e beber agua no deserto é para poucos. kkkk...Manda vê!!!!!!

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