10 de jun. de 2007

.:. Olhar cotidiano embaçado .:.

Meu sarcasmo está tímido hoje. Estou, diríamos, indignada mesmo. Ele está um tanto vesgo e embaçado após ler uma reportagem no jornal de hoje sobre o menino morto em Fevereiro.

“João Hélio: quatro meses depois, dor não cessa”.

Nem quatro meses depois e nem daqui a mil anos essa dor cessará, concordam? A mãe diz na reportagem que tenta não cultivar sentimentos ruins. Mas eu particularmente acho que a mídia não deixa ela se lembrar do filho como uma criança feliz; a mídia teima em resgatar as imagens do menino sendo arrastado, das manifestações, da revolta da população. Não foi feito luto, não foram choradas lágrimas de saudade ainda. Quatro meses depois e é só revolta, massificação da notícia.

João Hélio era um menino saudável que foi morto pela arma do desespero. A execução do crime foi idiota, quase atrapalhado, estabanado. Não existiu tática, nem tampouco, premeditação. O menino ficou preso no cinto circunstancialmente e pelo desespero da fuga, arrastado por vários quarteirões. Um crime ridículo se não fosse cruel. Alguns dos assassinos também são meninos e por isso, não foram julgados.

Quatro meses depois, a sociedade ainda chora, a mãe chora, a família chora e até eu chorei. A família transformou essa dor em luta e segue seus dias assim, sofrendo e lembrando do que aconteceu todo santo dia na esperança de que algo seja feito.

Normalmente tento ser positiva e cultivar a esperança de que tudo vai dar certo. Mas tenho visto tanta coisa que acabei ficando um pouco descrente. E sinceramente, eu duvido muito que as pessoas que poderiam fazer justiça nesse caso, encostem suas cabeças em seus travesseiros e percam seu sono por causa do filho de outrem. Provavelmente, explicam a seus pequeninos na hora de lhe cobrirem para dormir: “Dorme, filhinha, esse menininho agora virou um anjinho” e ponto final.

Eu sei! Eu Sei! É por pensamentos como estes meus que o Brasil não vai pra frente. Ora bolas, mania de culparmos uns aos outros pela desgraça do mundo. A minha parte eu faço: eu voto e por isso sim, a culpa é minha também. Uma andorinha não faz verão, mas várias no Congresso, na Câmara e na Presidência, talvez.

“Quatro meses e a dor não cessa”. Nem em quatro e nem em um zilhão de meses cessará. Por isso, eu cultivaria a saudade e não a revolta. Ainda vamos ler muito essa manchete...

1 comentários:

RAPHAEL disse...

Entendo toda a sua revolta. Entendo a dor que uma mãe, que uma família, amigos, parentes, e até mesmo desconhecidos, devem sentir. Mas temos que ter ponderação ao analisarmos tal caso. A barbárie tem que ser punida a todo rigor, sem dúvida. Mas o clamor social não pode, nunca, ter o condão de modificar nossa legislação, como aconteceu com fatos pretéritos. A lembrar: o homicídio qualificado foi remetido a crime hediondo depois da morte da filha de uma famosa novelista. A adulteração de medicamentos também, logo após um escândalo envolvendo tais produtos. O legislador tem que ter calma e serenidade. Não adianta sairmos por aí, clamando por Justiça. O que é Justiça? Justiça não são apenas leis. O ordenamento jurídico contém obrigações de não-fazer, revestidas ao manto punitivo. Porém a Justiça está muito mais distante do que o simples tipo descritivo. Justiça é punir, mas também é educar. Não podemos, ao arrepio do caos em que vivemos, colocarmos os assassinos de João Hélio como vilões em uma história repleta de mocinhos. Os países mais pobres apresentam a maior taxa de criminalidade. As glebas mais pobres apresentam grande índice de criminosos. Então surge a pergunta: o meio faz o criminoso ou o criminoso contribui para ele? Creio que os dois. Por isso peço ponderação. Ponderação e educação. Não apenas Justiça. Justiça, mas Justiça Social. Tenho certeza que casos iguais a estes seriam evitados.

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